Infração de trânsito tem novo perfil.
Infrações de trânsito fiscalizadas por equipamentos eletrônicos têm diminuído em Goiânia, enquanto as autuadas por agentes têm aumentado. Desde o ano passado, a quantidade de multas por excesso de velocidade e avanço de sinal vermelho apresentou queda de 19,7% e 14%, respectivamente. No mesmo período, os flagrantes de direção falando ao telefone celular cresceram 23,9% e de conduzir o veículo sem usar o cinto de segurança subiram 27,2%.
Em outubro de 2009, as infrações de trânsito mais recorrentes eram as de excesso de velocidade e avanço de sinal vermelho. Um ano depois, dirigir mais rápido que o permitido continua na primeira colocação, mas com diminuição de 126 mil para 101 mil multas neste intervalo. Já a segunda posição passou a ser ocupada pela negligência na utilização do cinto de segurança, ultrapassando a incidência de avanços de sinal vermelho.
As multas por dirigir sem usar o equipamento de segurança passaram de 42 mil para 54 mil de um ano para outro. Neste período, as infrações cometidas pelo uso de telefone celular ao volante aumentaram de 37 mil para 46 mil e agora são a terceira mais registrada pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran).
As reduções das multas por excesso de velocidade e avanço de sinal vermelho podem ser explicadas pela fiscalização eletrônica dos veículos. Na medida em que o condutor tem conhecimento dos lugares onde será fiscalizado, ele evita cometer a infração. E a tendência é que as multas por equipamentos eletrônicos reduzam ainda mais, pois o condutor se habitua com a presença dos equipamentos e assim se previne. “As pessoas se acostumam com as barreiras e, quando se aproximam delas, obedecem a legislação”, diz o presidente da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT), Miguel Tiago.
Como são fiscalizadas por agentes de trânsito, que nem sempre estão por perto ou estão visíveis para o motorista, as multas por dirigir falando ao celular e sem cinto de segurança têm avançado. Com a impressão de que não serão flagrados, os motoristas têm praticado esses tipos de infração com mais frequência.
O presidente do Conselho Estadual de Trânsito de Goiás (Cetran-GO), Antenor Pinheiro, sustenta que quando não há a presença de equipamentos eletrônicos de fiscalização ou agentes de trânsito em posições ostensivas, o ambiente se torna mais inseguro, pois os condutores sentem-se “liberados” para apressar os seus trajetos. “Cria-se a sensação de impunidade”, afirmou.
Antenor Pinheiro explicou que o aumento das infrações por dirigir sem usar cinto de segurança pode ser atribuído ao fato que não é mais necessário a abordagem pelo agente de trânsito desde agosto de 2009, por meio de deliberação do Cetran-GO com base em entendimento documentado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Outro fator que contribui para o avanço de infrações é o crescimento da frota veicular de Goiânia, o que significa mais gente infringindo a lei.
Miguel Tiago argumentou que a maior incidência de multas por dirigir falando ao celular e sem cinto de segurança não significa que houve aumento do número de infrações. “Ela está sendo mais observada agora. Com mais agentes de trânsito nas ruas, temos mais registros”, diz. Neste ano, começaram a trabalhar na agência 130 novos servidores. Por outro lado, a AMT perdeu os policiais que davam suporte à fiscalização de trânsito. O efetivo à disposição do órgão municipal variava, pois dependia das folgas dos militares, mas houve mês em que a AMT contou com o reforço de 200 policiais.
Motorista teme mais prejuízo no bolso
A redução de multas que são fiscalizadas por equipamentos eletrônicos e o aumento das que são autuadas por agentes revela que os motoristas se preocupam mais com as multas do que com a própria segurança. Para a psicóloga Marnene Soares, da Comissão de Trânsito do Conselho Estadual de Psicologia, os condutores modificam a conduta devido ao medo de serem sacrificados no bolso, em vez de se preocupar com a própria vida e com a dos outros, uma vez que o risco oferecido pelas infrações de trânsito são coletivos.
A psicóloga explica que os maus hábitos do motorista ao dirigir refletem o contexto social em que estão inseridos. “Eles reproduzem no trânsito todo o individualismo e a competição do mundo da vida”, afirmou. Por isso, os condutores sempre privilegiam os próprios interesses, a vontade de chegar primeiro, independente dos perigos que coloca o outro com quem divide os espaços nas ruas e avenidas.
Desrespeito
O presidente do Conselho Estadual de Trânsito de Goiás (Cetran-GO), Antenor Pinheiro, afirma que ainda é cedo para avaliar mudança de perfil dos infratores. Para isso seria necessário analisar um universo maior de amostras. No entanto, o comportamento do motorista que “odeia” equipamentos eletrônicos e chega a cunhar a frase “indústria de multas” quando recebe uma, significa que ele esquece que “a senha para não ficar contrariado é não cometer uma infração”.
O presidente da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade de Goiânia (AMT), Miguel Tiago, lembra que os motoristas reclamam quando os guardas não estão visíveis em vez de se preocuparem em respeitar a sinalização.
“O ideal seria que o fiscal voltasse para a agência sem ter feito autuações. A sociedade não precisa de um fiscal em cada esquina e, sim, de mais educação”, destaca Miguel Tiago.
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