Goianos gastam mais com transportes do que com comida.
O gasto dos goianos com transporte já é 22% maior do que o desembolso com alimentação. Uma família em Goiás, com renda média de R$ 2.380 por mês, destina para despesas com comida R$ 342,92, em média, enquanto a locomoção leva R$ 419,13, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último levantamento, realizado entre 2002 e 2003, o percentual de diferença destas áreas era de apenas 10%.
A mudança verificada em Goiás segue a tendência nacional. O chefe do IBGE no Estado, Daniel Ribeiro de Oliveira, diz que a alteração de hábito dos brasileiros, que passaram a comer mais fora de casa e encontraram mais facilidades de aquisição de veículos, justifica o fenômeno. “O aumento das despesas com transportes pode estar ligado à variação dos preços dos combustíveis e ao aumento da demanda, reflexo da expansão do mercado de trabalho. Por outro lado, as famílias estão comendo mais fora de casa, diante das facilidades e variedades deste hábito”, explica.
Para o transporte, no Estado, é destinado 21,2% da renda, enquanto a média nacional é de 19,6%. Na casa do empresário Altamiro Martins de Sá, de 62 anos, o item tem destinação certa de 7% de sua renda. São dois carros, dez tanques de gasolina e 3 mil quilômetros rodados apenas num mês. Sem contar a manutenção. “O transporte aperta o orçamento das famílias. Ainda mais com a gasolina neste preço.”
A alimentação, por sua vez, representa 19,2% dos gastos das família em Goiás, diante uma média no País de 19,8%. Juntos, transporte e alimentação levam cerca de R$ 760 do rendimento mensal ou 40,4% da renda dos goianos. Um exemplo está na casa da jornalista Raquel Pinho Bubniak, de 34 anos. Com quatro filhos, os dois itens levam quase 30% da renda. “É um gasto considerável.”
Segundo a pesquisa, a alimentação e o transporte só perdem para a habitação – o item que mais pesa no orçamento das famílias goianas -, assim como nos últimos sete anos. São R$ 708,25 da renda mensal gasto com aluguel, aquisição da casa própria, manutenção e compra de aparelhos e produtos domésticos entre outros itens ligados à atividade do lar. O número sofreu um salto de 72% na comparação com a última POF, quando eram gastos R$ 411,75.
Sozinho, o item da habitação corresponde hoje a 36,9%, e está um pouco acima da média nacional, de 35,5%. “O aumento da renda das famílias, principalmente por conta do salário mínimo, pode ser entendido como uma motivação. O lançamento de programas de incentivos é outra questão. Isso é o que podemos deduzir”, diz Daniel.
Uma das principais justificativas para o salto de 72% no item habitação está na aquisição e reforma de imóveis. Enquanto no período entre 2002 e 2003 a fatia para aumento de ativos (aquisição e reforma de imóveis) era de 4,8% do total das despesas das famílias, em 2009 esse porcentual sufbiu para 5,8%. A inclusão da internet, TV a cabo e do notebook em orçamento também colaborou.
A empresária Estela Daia, de 35 anos, por exemplo, diz que 20% de sua renda é destinada aos itens da habitação. Com três filhos, os gastos com o lar têm destaque nas contas de fim do mês. Água, luz, telefone, internet e funcionários ultrapassam os R$ 1 mil ao mês. “A casa é nova, mas sempre estamos arrumando algo.”
35% ainda sofrem com falta de alimentos
Rio- O rendimento das famílias brasileiras cresceu 10,8% de 2003 para 2009, bem acima dos 6% verificados nos gastos domiciliares no período. Mas, apesar do avanço no poder aquisitivo, mais de um terço das famílias (35,5%) vivem com “insuficiência da quantidade de alimentos consumidos”. É o que mostra a POF.
O levantamento demonstra que a meta “fome zero” lançada no início do governo Lula ainda não é realidade no País, embora o acesso das famílias brasileiras à comida tenha aumentado significativamente em sete anos. Na POF anterior, de 2002/2003, a alimentação era insuficiente para 46,7% das famílias. De acordo com os dados coletados no ano passado na Região Norte, que teve o maior aumento de renda (19,16%), passando à média mensal de R$ 2.092,32, mais de 50% das famílias ainda não comem o que necessitam.(AE)
Salário é a maior fatia da renda familiar
O salário corresponde a maior fatia da renda média mensal familiar em Goiás, de R$ 2.380, somada à variação patrimonial (ganhos com investimentos financeiros e imóveis). Para 66,2% das famílias, a remuneração é a única fonte de recursos. Os dados fazem parte da POF .
A segunda maior participação vem das transferências (15,7%), originárias principalmente do governo. Nessa parcela, o destaque fica com aposentadorias e pensões governamentais, 80% das transferências, das quais 55% provenientes do INSS. Já os programas sociais federais representaram 3%.
Há um peso maior também dos rendimentos não monetários, obtidos com trocas, doações e produção própria de alimentos e outros itens pelas famílias. Esse tipo de rendimentos pesa 10,4% no total.
A POF mostra também que as famílias que vivem na área rural do Estado têm menos despesas com tributos do que as urbanas, mas que os gastos com impostos estão crescendo no campo nos últimos anos. Do total de despesas das famílias rurais, 5,4% foram direcionados para impostos em 2009, enquanto na área urbana esse porcentual foi de 11,3% (em 2003, era de 11,4%).(RC)
O Popular – Ricardo César //