Dois mundos no transporte coletivo.


Cenário 1: Central de Controle Operacional (CCO) do Consórcio da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), onde as quatro empresas que operam o serviço investiram R$ 50 milhões em tecnologia de ponta para controlar os mais de mil ônibus em circulação e oferecer informações em tempo real aos usuários. Considerada modelo, a CCO recebe visitas técnicas de gestores de transporte público de vários Estados e até do exterior.

Cenário 2: Trabalhadores da construção civil aglomerados em uma calçada da Avenida Aruanã, no Jardim Bela Vista, aguardando o ônibus para levá-los para casa, a maioria em Aparecida de Goiânia. Apesar de não haver nenhuma sinalização – abrigo, então, nem pensar -, ali é um ponto de ônibus, onde eles esperam pelo transporte sob sol e chuva. A estimativa da RMTC é de que dos 5.670 pontos de ônibus da Região Metropolitana, cerca de 2 mil não têm abrigos.

Lançado há exatamente um ano, o serviço que informa gratuitamente, por torpedos via celular, os horários de ônibus, é um exemplo do contraste entre esses dois mundos do transporte coletivo: bastaria que o usuário enviasse um torpedo para o número 28000 com o número do ponto de ônibus onde está para receber de volta uma mensagem informando as linhas e os ônibus que passarão pelo local. Tudo em tempo real.

O problema é que há apenas dois pontos de ônibus com identificação na Grande Goiânia: um na porta do Consórcio RMTC, na Avenida Independência, no Centro, e outro na Praça Universitária. Sem contar os vários locais que não contam sequer com sinalização de que são pontos para parada de ônibus. Se for persistente, o usuário ainda pode conseguir o número do ponto, ligando para o call center ou acessando o site da RMTC. O POPULAR testou as duas formas. Por telefone, é mais rápido e eficiente. O serviço de envio de torpedos, no entanto, está em manutenção.

A reportagem percorreu dezenas de linhas e passou por centenas de pontos de ônibus em Goiânia e Aparecida de Goiânia e constatou que há um fosso entre o sistema tecnologicamente bem estruturado e o serviço que chega ao usuário nos pontos e terminais de ônibus. “Teoricamente, o sistema de transporte de Goiânia, do jeito como está configurado, é o melhor do Brasil, melhor até do que de Curitiba (PR)”, diz o presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran) Antenor Pinheiro. “O problema é que, na prática, não funciona, por falta de infraestrutura”, conclui.

Antenor define o Consórcio da RMTC como “extremamente bem equipado, com alta tecnologia e um desenho do sistema bem concluído”. “Mas não adianta nada se a infraestrutura não está preparada. Por que mandar torpedo informando quantos minutos falta para o ônibus passar no ponto se ele vai ter de disputar espaço com os carros, por falta de corredores, e terá atrasos, por causa da baixa velocidade?”, questiona.

O diretor-geral do Consórcio RMTC, Leomar Avelino Rodrigues, concorda. “Só tecnologia, ônibus novos e um bom modelo de gestão não são suficientes para atingirmos o resultado esperado pelo usuário”, diz. “O grande pecado é a falta de investimentos em infraestrutura pública”, complementa. Entre esses investimentos necessários, Leomar aponta a identificação dos pontos e obras em pontos de ônibus, corredores para o transporte coletivo e adequações nos terminais de ônibus existentes. O da Praça A, por exemplo, foi concebido para 20 mil usuários e hoje recebe em torno de 70 mil diariamente.

Desconforto
O servente de pedreiro Roberto Carlos dos Santos, de 42 anos, é um dos trabalhadores que todos os dias aguardam o ônibus ao relento na Avenida Aruanã, no Jardim Bela Vista. De lá, ele segue para o Terminal Izidória, depois para o Veiga Jardim e depois para o Jardim Tiradentes, onde mora. “Fico mais cansado andando de ônibus do que trabalhando de servente”, diz.

Colega de obra e bairro de Roberto, Geraldo Machado dos Santos, de 45, reclama da superlotação dos veículos. “Sem falar no desconforto do ponto de ônibus”. “Quando chove, ficamos molhados. Não há para onde correr”, acrescenta o servente Teodoro Rodrigues Pimentel, de 44.

Desconforto
O servente de pedreiro Roberto Carlos dos Santos, de 42 anos, é um dos trabalhadores que todos os dias aguardam o ônibus ao relento na Avenida Aruanã, no Jardim Bela Vista. De lá, ele segue para o Terminal Izidória, depois para o Veiga Jardim e depois para o Jardim Tiradentes, onde mora. “Fico mais cansado andando de ônibus do que trabalhando de servente”, diz.

Colega de obra e bairro de Roberto, Geraldo Machado dos Santos, de 45, reclama da superlotação dos veículos. “Sem falar no desconforto do ponto de ônibus”. “Quando chove, ficamos molhados. Não há para onde correr”, acrescenta o servente Teodoro Rodrigues Pimentel, de 44.

Velocidade de ônibus cai a até 10 km/hora
O maior entrave para a qualidade do transporte coletivo de Goiânia não é novidade: como O POPULAR vem mostrando ao longo de anos, a falta de corredores preferenciais e exclusivos – esta segunda forma, uma solução definitiva – nos principais corredores de Goiânia prejudica as viagens, provoca atrasos e, em efeito cascata, atua diretamente na má qualidade do serviço prestado aos usuários.

A velocidade ideal dos ônibus, de acordo com o Consórcio da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), é a de 22 quilômetros por hora, mas atualmente, os ônibus circulam com velocidade média de 16 quilômetros por hora. “Na prática, se há algum acidente, chuva ou qualquer outro fato que provoque uma retenção qualquer, a velocidade cai drasticamente”, diz o presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Antenor Pinheiro. Nesses momentos, a velocidade média cai a incríveis 10 quilômetros por hora.

Antenor ressalta que a população, diante dos problemas com o serviço oferecido, tem a falsa sensação de que faltam ônibus. “Temos ônibus demais para Goiânia”, alerta. Com frota de 1,3 mil veículos, a capital tem uma proporção de um ônibus para cada grupo de mil habitantes. “O que falta são mais viagens e, para isso, eles precisam desenvolver uma maior velocidade, ter prioridade”, diz Antenor. “Colocar mais ônibus em circulação seria o caos”.

Diretor geral do Consórcio RMTC, Leomar Avelino Rodrigues aponta a falta de
fluidez como maior empecilho para melhorar a qualidade do transporte público em Goiânia. Ele lembra que o sistema transporta diariamente 800 mil pessoas. Em setembro, o grupo criou um comitê técnico com especialistas e estudiosos em trânsito e transportes para apresentar sugestões ao poder público. Leomar já adianta que a implantação dos corredores é fundamental. A Avenida T-10 e a Avenida 85, entre a Praça do Ratinho e a T-10, estão entre os principais gargalos da cidade.

Segundo Leomar, as mudanças feitas pela Prefeitura nas Avenidas T-7 e T-9 tiveram reflexos para o trânsito. “Para que cheguem ao transporte coletivo, ainda falta o complemento. Com o fim do estacionamento, os carros foram para a pista da direita, que ficou liberada”.

O presidente da Agência Municipal de Trânsito e Transportes (AMT), Miguel Tiago, garante que as mudanças nas Avenidas T-7 e T-9 – além da retirada do estacionamento, foram eliminadas conversões à direita e semáforos de três tempos – foram positivas também para o transporte coletivo. Miguel Tiago também defende a implantação de corredores exclusivos e preferenciais, mas destaca que para isso, outros órgãos, além da AMT, devem se envolver. “A AMT é um tanto limitada”, afirma.

Situação do Eixo segue indefinida
Principal linha do transporte público de Goiânia, o Eixo Anhanguera vive um entrave: faltando menos de um mês para o fim da concessão à Metrobus, Prefeitura de Goiânia e Estado ainda não chegaram a um acordo sobre a prorrogação ou não do contrato.

Paulo Garcia começou a tratar do assunto com a equipe de transição do governador eleitor Marconi Perillo. “Queremos saber o que eles realmente querem fazer”, diz o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC). “Uma coisa é certa: o Eixo Anhanguera não vai ficar como está”.
Massad refere-se ao comprometimento da maior linha de Goiânia, que diariamente transporta até 200 mil passageiros, em função da idade média dos ônibus, de 12 anos, quando a vida útil desse tipo de veículo é de dez anos.

A Metrobus, empresa do governo estadual que detém a concessão do Eixo Anhanguera, já havia pedido, no final do ano passado, a prorrogação da concessão da linha por mais 20 anos. A prorrogação volta a expirar no próximo dia 31.

CMTC promete investimentos
O presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Marcos Massad, reconhece que há atrasos no cronograma definido quando da licitação das linhas da Região Metropolitana de Goiânia, em 2007. Especificamente sobre a identificação dos abrigos, ele revelou ao POPULAR que o modelo inicialmente escolhido mostrou-se inviável economicamente. Ele é o mesmo que foi instalado na Avenida Independência e na Praça Universitária e, além do número do ponto e das linhas que passam por ele, tem informações e um mapa da região.

“Foi uma falha nossa”, admite Massad. “Quisemos fazer uma coisa mais completa, mas ficaria muito caro. Então, faremos um mais barato. Não será uma festa de 15 anos bonita, mas vai ter o bolo e os parabéns”, compara. Massad acrescenta que a maioria dos pontos que não possuem abrigo é usada apenas para desembarque, mas diz que a equipe técnica da CMTC vai verificar a situação por toda a região.

Massad observa que o Sistema de Informação Metropolitano (SIM, do qual o serviço de informações por torpedo faz parte) está quase que todo em funcionamento. Com a entrega do Terminal Bandeiras, prevista para dezembro, a CMTC se concentrará na construção do novo Terminal Garavelo e na implantação do Corredor Norte-Sul.

O Popular – Carla Borges //

Banner Mobile

Governo na palma da mão

Pular para o conteúdo