Detran sucateado castiga usuários.
Na contramão do aumento acelerado da frota de veículos, da demanda por serviços e da arrecadação com o recebimento de taxas e tributos, o Departamento Estadual de Trânsito em Goiás (Detran-GO) sofre com a deterioração progressiva. Mobiliário sucateado, falta de material de consumo e infraestrutura inadequada castigam usuários e funcionários do órgão. Estima-se que menos de um terço dos servidores tenha sido contratado em concurso público. Há departamentos que só funcionam graças à presença de estagiários, menores aprendizes e comissionados. A situação já havia sido denunciada pelo POPULAR há cerca de seis meses. De lá para cá, o problema só tem se agravado. O segundo órgão que mais arrecada no governo, com cerca de R$ 40 milhões mensais de receita, completa quatro meses com suas três principais diretorias ainda vazias. Andar por alguns dos blocos e salas do Detran é como fazer uma viagem no tempo. Boa parte do mobiliário é da época de fundação do órgão, na década de 1980. Mesas de estruturas metálicas com gavetas enferrujadas estão em todo canto. Não raro, pode – se encontrar carteiras escolares velhas que tiveram os braços arrancados para que pudessem ser reaproveitadas pelos servidores. A “gambiarra” causa descontentamento entre os servidores. “Deixo o trabalho todos os dias com o corpo moído”, reclama um deles, ouvido pelo POPULAR – os servidores conversaram com a reportagem com a garantia de que teriam suas identidades preservadas.
Em outras salas, as cadeiras usadas pelos funcionários foram levadas de casa, assim como materiais e equipamentos de uso comum. Até impressoras são adquiridas e instaladas por servidores nos departamentos do órgão. “Se não for assim, o serviço para”, diz outro funcionário do Detran.
Em um dos departamentos visitados pelo jornal, quase todos os grampeadores em uso foram adquiridos pelo chefe da sessão. Em outra área, um único aparelho de fax atende a todos os departamentos instalados no bloco. O acúmulo de processos em salas impróprias, ao lado das mesas onde trabalham os funcionários, já gerou diversas reclamações dos servidores às comissões de saúde e trabalho do órgão. Em alguns departamentos, pilhas de processo são depositadas no chão dos corredores.
Não há espaço físico para uma demanda tão grande de processos. Enquanto se espremem em salas pequenas – por vezes divididas ao meio para ceder espaço a um outro setor -, a área adquirida pelo Estado há cerca de cinco anos ao lado do Hipódromo da Lagoinha, por mais de R$ 4 milhões, permanece subutilizada, tomada pelo mato e por enorme quantidade de veículos apreendidos pela polícia circulando em situação irregular no Estado.
“O usuário paga taxas caríssimas. Deveria receber um atendimento de excelência. Mas com condições tão ruins como a que nós temos, isso é impossível”, frisa o presidente da Associação dos Servidores do Detran de Goiás (Asdeg), João Bosco Almeida da Costa. “Com a arrecadação de um mês, o órgão conseguiria investir os recursos necessários para construção da nova sede no terreno já adquirido.” Para João Bosco, o auto índice de utilização dos serviços de despachante em Goiás – em média 70% do serviços do Detran aos usuários são feitos pelo sindicato da categoria – reflete, na prática, o mal atendimento prestado pelo órgão. “Essa prática inflaciona o serviço para o usuário. Não é justo pagar mais caro para ter seu direito atendido.”
A deterioração dos equipamentos do órgão, de acordo com o presidente da Asdeg, pode ser exemplificada no setor de vistorias. “Hoje há equipamentos muito mais modernos disponíveis no mercado. Os usados pelo Detran são da década de 1980”, ressalta João Bosco. O sindicalista critica o fato de, a despeito de o órgão ser uma autarquia, não possuir autonomia para definir como e onde vai gastar o dinheiro arrecadado com taxas e com o recebimento do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores.
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