Caminhoneiros denunciam venda de bebidas em rodovias federais


Apesar de proibido por lei, comércio de álcool nas margens de BRs acontece sem restrições.
Os números recordes registrados de motoristas bêbados ao volante preocupam. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez 14 autuações em menos de 24 horas no final de semana, todas por teor alcoólico superior ao permitido por lei, conforme mostrou o DM na edição de ontem.

Caminhoneiros ouvidos pela reportagem confirmam a facilidade em adquirir bebidas quando estão em viagem. Nem mesmo a lei que proíbe a venda desses produtos em estabelecimentos às margens das rodovias federais impede a prática. “Em qualquer parada tem”, afirma Edilson Batista dos Reis, 55, motorista profissional há 35 anos. Dos quatro postos em BRs visitados ontem pela reportagem, todos vendiam bebidas alcoólicas sem qualquer restrição.

A legislação federal diz que é vedada a venda de bebidas para consumo no local, seja bar, restaurante, loja de conveniência, entre outros que estejam nas BRs. Abre-se aí uma brecha para que o interessado possa comprar a bebida e consumir em outro lugar, no próprio caminhão, por exemplo. E a lei ainda permite que os estabelecimentos que estão instalados em rodovias federais, mas numa área que compreende perímetros urbanos, comercializem o produto. Já no âmbito estadual, não há lei que proíba o comércio desses produtos. “Não precisa nem vender nas rodovias. Se o motorista quiser, ele para em uma cidade e compra. Não é uma lei que vai impedir a prática de beber e dirigir, mas sua própria consciência”, diz o caminhoneiro paulista Ricardo José Nunes, 45.

Ricardo está em Goiânia esperando carga para seguir viagem. Funcionário de uma empresa que exige parada noturna para descanso, diz que já se cansou de ver colegas parar nos postos de beira de estrada, comprar bebidas, drogas, e seguir viagem. “A gente até tenta aconselhar, mas eles não esperam, seguem viagem numa atitude que julgo inconsequente.”

A fiscalização para o cumprimento dessa lei deve ser feita pela PRF. Assessor de comunicação da PRF, inspetor Newton Morais diz que a imprudência e a falta de consciência de alguns motoristas são as principais causas de acidentes. “A legislação (lei seca) está em vigor desde o ano passado e muitos ainda insistem em infringi-la. Não somos contra ou a favor de compra ou venda de bebidas. Queremos apenas que a lei seja cumprida.” Ele explica que os números de acidentes envolvendo álcool tendem a aumentar até o final do ano. “A tendência é que mais pessoas saiam de casa para feriados prolongados, férias, festas. Tudo isso envolve comemorações com álcool e, em consequência, acidentes nas rodovias.”

Autuações da lei seca  em GOs sobem 844,4%

Comandante do Batalhão Rodoviário da Polícia Militar, coronel Washington Luiz Alves Cavalcante diz que, no final de semana, seis condutores foram autuados por dirigirem embriagados em rodovias estaduais. Ele admite que o número de caminhoneiros em rodovias estaduais é menos que nas federais, mas defende que a fiscalização seja intensificada com motoristas de carros de passeio também. O número de militares nas GOs passou de 190 para 300 e isso deve intensificar as abordagens.

“Antes, tínhamos média de 90 autuações por dia, que passou para 850 (aumento de 844,4%) depois do aumento de pessoal. Nossa intenção é atuar firmemente para inibir que motoristas, de caminhão e carro de passeio, trafeguem sob efeito de álcool.” A PRE conta com 50 bafômetros. Trinta estão distribuídos nos postos e 20 ficam em viaturas.

O aumento no número de policiais foi solicitado pelo coronel depois de estudo que confirmou o crescimento de casos de acidentes e embriagados. Em agosto, pelo menos 20 motoristas foram flagrados com níveis acima do limite permitido de álcool no sangue. Para ele, o retorno do funcionamento das lombadas eletrônicas e radares deve auxiliar nesse trabalho.

“Eu assumo que é errado, mas a gente não tem lazer”

Motorista profissional há 33 anos, Maria Fátima Gama de Sousa, 52, diz que não faz uso de bebida ou de qualquer substância que altere sua rotina.  Ela afirma que, em muitas paradas, tem vontade de pedir mais cautela aos colegas. “Dá vontade de parar e conversar. Pedir para não seguir viagem bêbado ou drogado, mas nessas condições ninguém acha que está errado.”

Parado em um posto no perímetro urbano de Goiânia, J.S.C.C., 33, confessa que já bebeu e saiu para viagem. Diz que nunca aconteceu nada e que não bebe além da conta. “Eu assumo que é errado, mas a gente não tem lazer, muitas vezes nem folga. Para quem gosta de beber, é difícil ficar um mês sem colocar uma gota de álcool na boca. Sou contra encher a cara, mas beber um pouquinho acho que pode.”

Alguns motoristas cobraram mais ação por parte da PRF, como campanhas educativas. Newton Morais, da PRF, disse que essa afirmação pode ser mais uma desculpa para justificar atos errados. “Todos, desde o processo para habilitação, aprendem e debatem sobre riscos da bebida associada à direção. Desde a implantação da lei seca, o tema não sai da mídia. Além disso, a própria pessoa que bebe sabe das consequências.”

DIÁRIO DA MANHÃ

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