Atropelamentos causam 61 mortes


Faixas de pedestre mal sinalizadas, ausência de campanhas educativas e pouca fiscalização somadas à falta de educação de motoristas e pedestres formam a mistura responsável pelas mortes por atropelamento em Goiânia. De janeiro até julho, 18 pessoas morreram após serem atingidas por veículos quando atravessavam rua sobre as faixas de segurança, segundo informações da Delegacia Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito (Dict), que ainda não tem discriminado o quantitativo nos últimos três meses.

Até ontem, já aconteceram 61 mortes por atropelamento este ano (cerca de 60% de 2008). Caso continuem na mesma frequência, podem superar a quantidade total do ano passado, quando 104 pedestres morreram por atropelamento somente no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). A repetição da estatística elevada demonstra que hábitos de motoristas e pedestres não mudaram de um ano para outro.

Na tarde de ontem, a reportagem do Diário da Manhã flagrou momento que exemplifica falta de educação no trânsito em relação à faixa de pedestre. Em frente ao Palácio Pedro Ludovico Teixeira, na Praça Cívica, um estudante atravessava rua sob a mira de carros e motocicletas, que não respeitavam a prioridade de quem transita a pé.

O jovem passava pela faixa de pedestre quando o sinal ficou vermelho. Mas os automóveis não esperaram o garoto terminar a travessia para acelerar. Um carro que saía de posto de combustíveis localizado na esquina da Praça Cívica com Avenida 84 locomoveu em direção à rua passando sobre o espaço destinado exclusivamente ao estudante. Do outro lado, as motocicletas também avançavam sobre a faixa.

Cenas deste tipo podem ser vistas diariamente pelas vias de Goiânia. Assim como pedestres se arriscando fora da faixa de segurança. Para o presidente da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT), Miguel Tiago da Silva, “as mortes por atropelamento estão intimamente ligadas à falta de educação no trânsito”.
Miguel Tiago disse que a imprudência parte tanto de motoristas quanto de pedestres, e que a responsabilidade por todas as mortes não pode ser atribuída exclusivamente aos condutores.

A opinião é compartilhada pela titular da Dict, Edilma de Freitas Gomes de Almeida. A delegada afirma que a maioria deste tipo de ocorrência acontece fora da faixa de pedestre.

Campanhas

Combate à imprudência de motoristas e pedestres passa pelo processo educativo, acredita o presidente da AMT, Miguel Tiago da Silva. “Temos que atuar na educação de atuais e futuros condutores e na linha repressiva aos que já estão no trânsito”. No entanto, reconhece que faltam campanhas para modificar os hábitos dos goianienses.

Neste ano, nenhuma de grande impacto foi realizada pelo órgão. Miguel Tiago explica que inserções em rádios e televisões custam valores que a AMT tem dificuldade de bancar. Enquanto os recursos não são viabilizados, a agência municipal trabalha em educação para o trânsito com os 5% do total arrecadado em multas, conforme previsto em lei.

Com ajuda da Secretaria de Comunicação do município, a AMT prepara ainda para este ano um trabalho educativo em rádios e televisões. O órgão está definindo junto ao Poder Executivo municipal o montante que será investido a curto prazo. “Na medida que ocorrerem as campanhas, o motorista aprende a respeitar o pedestre”.

Mas as campanhas terão efeito somente se as faixas de pedestre puderem ser vistas pelos motoristas, o que não é possível com facilidade em vários pontos de Goiânia. A sinalização encontra-se apagada sobretudo nas vias coletoras, que cortam as principais avenidas da cidade e levam veículos para elas.

Infração

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que desrespeitar a faixa de segurança constitui infração média. Condutores flagrados nesta situação podem ser punidos com multa no valor de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira.

A AMT não possuía ontem à noite números discriminados sobre infrações relativas a faixas de pedestres. Mas relatório apresentado ao DM em 18 de setembro informa que multas por parar o veículo sobre a faixa na mudança de sinal equivalem a 3% do total.

 

“Ele não passava um dia sem dizer que me amava”

A morte de Silvester Rodrigues de Souza interrompeu o que seria o primeiro passeio em família desde que ele, a mãe e dois irmãos se mudaram para Goianira, região metropolitana de Goiânia. A caminho da primeira sessão de cinema que pegaria, o menino de dez anos teve a vida colhida por um carro quando atravessava a GO-070 sobre a faixa de pedestre na tarde do último domingo (27).

Silvester teve o corpo arremessado por aproximadamente 40 metros, após ser atingido por um Honda Civic com placa de Inhumas que rodava em alta velocidade. O garoto terminava de atravessar a faixa de pedestre e já chegava ao ponto de ônibus do outro lado da rodovia quando foi atropelado. Ele estava poucos metros à frente da mãe, que assistiu a tudo.

Depois do enterro, familiares do menino almoçavam sem ele pela primeira vez, por volta das 17 horas de ontem. Inconformada com a morte, a mãe de Silvester falava sobre justiça. “Mesmo sem ter meu filho de volta, ele (o motorista) vai ter que pagar por tudo que fez. Não vai ficar assim. Ele nem sequer me ligou ou ofereceu apoio”, disse Idelminda Gonçalves Rodrigues, de 33 anos.

Com os três filhos que cria sozinha, ela chegou a Goianira em busca de emprego. Veio de Água Doce do Norte, no Espírito Santo. Trabalha em confecção de roupas, na fabricação e venda dos produtos. Na ausência da mãe durante quase todo período do dia, era Silvester quem ajudava a cuidar dos irmãos menores.

Ele estudava no 4° ano do ensino fundamental e dizia que seria cientista quando crescesse. “Repetia sempre que me daria uma casa e trabalharia muito para eu poder ficar mais tempo perto dele. Não passava um dia sem dizer que me amava”, disse a mãe.

Diário da Manhã

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