Falta de assento pode adiar multas.
Amt define hoje como será a fiscalização do uso dos dispositivos de retenção para crianças.
Com a proximidade do início da fiscalização pelos órgãos de trânsito do cumprimento da Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) tornou-se tarefa difícil encontrar no mercado os dispositivos de segurança de uso infantil (bebê-conforto, cadeirinha e assento de elevação) admitidos a partir de agora no Brasil para o transporte de crianças de até 7,5 anos em veículos automotores. Após dois anos em vigor, a fiscalização da norma começa, efetivamente, na quarta-feira, dia 1º de setembro – O POPULAR publica desde ontem até quarta-feira série sobre o tema. Diante da falta de produtos no mercado, a Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT) já admite adiar a aplicação de multas para quem desobedecer a lei.
Na sexta-feira, a Assessoria de Imprensa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) informou ao POPULAR que não há qualquer possibilidade de novo adiamento da fiscalização sobre o uso dos dispositivos de retenção. O cumprimento da norma deveria ter começado a ser cobrado pelos órgãos de trânsito em junho desse ano. Mas foi adiado pela presidência do Denatran justamente em decorrência da escassez de produtos. “A fiscalização começará na data prevista. Mas é possível que nos primeiros dias ela ocorra em caráter educativo. Se está faltando produtos no mercado, é preciso usar o bom senso”, adiantou ao POPULAR o presidente da AMT, Miguel Thiago.
Conforme levantamento feito pela reportagem, equipamentos como o bebê- conforto e a cadeirinha, que normalmente já são utilizados pelos pais para transportar os filhos pequenos, são encontrados em grande quantidade nas lojas. O mais difícil tem sido adquirir o assento de elevação, destinado a crianças a partir de 4 anos ou 18 quilos. A maioria delas costuma viajar no cinto do carro ou soltas dentro do veículo, o que contraria a legislação e as expõe a enorme risco de morte e de lesão grave.
A gerente de uma loja de artigos infantis no Centro de Goiânia informou, na sexta-feira, que os 20 assentos que chegaram na semana passada foram vendidos em dois dias. “Não temos mais nenhuma unidade nem previsão de chegada”, disse. Segundo ela, nenhuma das oito unidades da rede tinha o produto para comercializar.
Em outra loja localizada no maior shopping da cidade, só havia cadeirinhas e bebês-conforto. A chegada de novos assentos de elevação era prevista para setembro. A reportagem de O POPULAR também percorreu dez lojas de acessórios para bebês e crianças de Goiânia e detectou que na maioria delas há falta de alguns dos dispositivos de retenção exigidos pela lei. Na Avenida 24 de Outubro, em Campinas, a reclamação dos vendedores é de que os fornecedores estão enviando os produtos em pouca quantidade, enquanto a demanda cresceu enormemente. Representante de um dos principais fabricantes dos assentos em Goiás, Gilberto Almeida Santos informou que novos pedidos só serão atendidos em 2011.(Colaborou Camila Blumenschein).
Criança fica paraplégica depois de acidente
Rosa de Araújo tem 6 anos e muitos desejos. Quer aprender a andar de bicicleta e jogar futebol. Mas seus sonhos, pelo menos por enquanto, não vão se realizar. Breno se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas. Ficou paraplégico em um acidente de trânsito. Devido às limitações físicas, sua brincadeira mais comum é com carrinhos, que não lhe exige o caminhar. A vida de Breno mudou há 4 anos, num 19 de agosto que marcaria para sempre seu corpo, sua história e a de sua família.
Breno viajava de Bela Vista de Goiás para Goiânia com o tio, que tomava conta da criança enquanto a mãe, Clarisse Rosa de Menezes, de 30 anos, trabalhava. Naquele dia, o menino foi com o tio buscar a avó e a prima no interior. Clarisse sentiu um estranho aperto no peito, ligou, mas não pode fazer mais nada.
Era por volta de 22 horas quando o Gol em que Breno viajava chocou-se de frente com outro veículo. O menino estava no banco traseiro do veículo, do lado da porta, usando o cinto subabdominal. Naquela noite, Breno perdeu muitas lembranças e o movimento das pernas. Paulo Henrique de Amorim, de 21 anos, que seguia no banco do passageiro, perdeu a vida. Os outros três ocupantes sofreram ferimentos sem maior gravidade.
O pequeno, então com 2 anos, ficou 15 dias internado em coma na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital da Criança, em Goiânia. Na época, perdeu a fala e a memória que, aos poucos, foram recuperadas. Breno sofreu uma lesão nas vértebras T3 e T4. Hoje, ainda não existe tratamento capaz de fazê-lo voltar a andar.
A mãe sofre ao falar do acidente. Queria ter faltado ao trabalho, ficado com o filho. Quando vê crianças da mesma idade que ele brincando, correndo e andando de bicicleta, sente uma culpa que não lhe pertence.
O filho faz tratamento no Centro de Readaptação e Reabilitação Dr. Henrique Santillo (Crer), onde passa as tardes das quartas-feiras. Breno cursa o 1º ano do ensino fundamental na Escola Estadual Gracinda de Lourdes, no Centro de Goiânia. A mãe conta que o humor do filho não é o mesmo desde o acidente. “Ele era uma criança alegre, gostava de brincar. Ficou triste. No começo tentava se levantar. Agora já aceita melhor sua condição.” Hoje Clarisse acredita que o acidente fazia parte do destino dos dois. “Penso que tinha de passar por isso”, diz.
Clarisse lembra que, na época, pensou em comprar a cadeirinha para transportar o filho, mas pesou o fato de não ter carro. “Já tinha pensado em comprar, apesar de não ser obrigatório, mas a gente acha que nunca vai acontecer com a gente, mas acontece”, lamenta.
A quem ainda tem tempo para fazer a coisa certa, ela dá um conselho: “Não deixe para depois, senão a gente paga caro e não tem como voltar atrás”. Clarisse acredita que se o filho estivesse viajando na cadeirinha, a gravidade das lesões não seria a mesma. “Acho que ele não teria ficado sem andar.”
(C.O e D.A).
O Popular – Carla de Oliveira e Deire Assis //