Motorista ignora direito de idosos e deficientes.
Pessoas com mobilidade reduzida não conseguem estacionar em vagas exclusivas. Faltam consciência e ação da administração municipal.
É lei: 2% e 5% das vagas de estacionamento nas cidades, respectivamente, são de uso exclusivo de pessoas com deficiência que têm mobilidade reduzida e idosas. Há quase dois anos, a sinalização e os critérios de uso dessas vagas ganharam nova regulamentação no Brasil com a entrada em vigor de duas resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O que o POPULAR constatou essa semana andando pelas ruas de Goiânia, no entanto, é que apenas a lei mudou.
Permaneceram inalteradas as deficiências de sinalização e de fiscalização do uso dessas vagas e a falta de respeito de motoristas que insistem em usar o espaço de forma indevida. Quem o faz se justifica quase sempre da mesma forma: “Eu sei que está errado, mas rodei 15 minutos por aqui e não encontrei outra vaga para estacionar. Parei rapidinho para comprar um lanche”, diz uma advogada que estacionou na vaga exclusiva para deficientes na porta de uma agência bancária na Praça Tamandaré ao ser abordada pela reportagem.
“O problema é que para quem tem dificuldades de mobilidade, o ‘rapidinho’ pode fazer uma grande diferença. Nem sei quantas vezes perdi compromissos importantes, consultas médicas porque ao chegar para estacionar havia o carro de uma pessoa que não tem deficiência”, conta a funcionária pública Simone Pinto da Costa, de 44 anos.
Cadeirante por causa de uma poliomelite na infância, Simone dirige desde os 19. Coleciona histórias desagradáveis para contar sobre vagas para estacionar. “Um dia estava num grande hipermercado cheio de vagas e uma senhora parou na vaga para deficiente. Eu reclamei e ela disse para eu parar em outro lugar”, lembra. “Me recordo de dizer que se um dia alguém da família dela precisasse usar uma cadeira de rodas, ela talvez entenderia porque a existência daquelas vagas exclusivas eram necessárias”, comenta.
A funcionária pública trabalha no Vapt-Vupt da Praça A, em Campinas, e paga 80 reais por mês para deixar o carro no estacionamento. Mas isso também não lhe garante o direito de usar a vaga exclusiva para pessoas com deficiência. “Haja batom para manifestar minha indignação”, diz, confessando que já deixou alguns “recadinhos” nos parabrisas de carros estacionados irregularmente.
No Centro de Goiânia, onde a maioria dos serviços é oferecida ao cidadão, encontrar uma vaga para pessoas com deficiência ou para idosos desocupada é tarefa praticamente impossível. Na semana passada, enquanto o POPULAR aguardava o proprietário de uma F-250 voltar ao local onde parou o veículo, na Rua 7, bem embaixo de uma placa indicando ser a vaga de uso exclusivo de deficientes, do outro lado da rua surgiu o aposentado Romário Rodrigues de Oliveira, de 66 anos. Ele, sim, deficiente por causa de um acidente sofrido aos 17.
“Sempre quis que vocês fizessem essa matéria”, diz ele vindo ao encontro da reportagem. “Eu nunca consigo usar essa vaga porque sempre tem um carro parado aí. Já fui multado várias vezes por parar em local proibido. Ou seja, a lei vale para alguns mas para outros não”, reclama o aposentado na porta do cartório comandado pelos irmãos. Enquanto Romário relatava suas dificuldades, o dono da caminhonete deu partida no veículo e partiu sem falar com a reportagem.
Para o aposentado, falta consciência da população e um pouco de solidariedade também. “Eu já ouvi de tudo o que você puder imaginar. Uma pessoa me disse, uma vez, que não ia sair da vaga onde tinha parado porque ela não tinha culpa de eu ter nascido aleijado. Mal sabia ela as dores que eu tenho no corpo quando preciso caminhar até mesmo pequenas distâncias”, conta o aposentado.
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