Para especialistas, faltam ações no transporte.
Especialistas ouvidos ontem pelo POPULAR disseram que o trânsito tem influência direta sobre a qualidade do transporte coletivo, mas destacaram que ele não é o único problema. Fiscalização para garantir a manutenção de parâmetros mínimos de qualidade do serviço oferecido e necessidade de implantação urgente de corredores exclusivos – e não apenas preferenciais – para ônibus nos principais eixos são necessidades apontadas.
Na entrevista do Face a Face de ontem – espaço interativo do POPULAR por meio da rede social Facebook –, o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Marcos Massad, classificou o transporte coletivo de Goiânia como “regular” e disse, em resposta a perguntas dos leitores, que o congestionamento do trânsito e a falta de corredores exclusivos para o transporte coletivo são os principais responsáveis pelos problemas (leia mais abaixo).
Presidente da Agência Municipal de Trânsito e Mobilidade (AMT), Miguel Tiago da Silva preferiu não comentar a entrevista de Marcos Massad, afirmando que não é justo atribuir apenas ao trânsito todas as mazelas do transporte coletivo. Segundo ele, a AMT concorda que são necessários corredores exclusivos em Goiânia para os ônibus do transporte coletivo, mas no que se refere ao trânsito todos são responsáveis.
Já o presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran) e ex-superintendente de trânsito em Goiânia, Antenor Pinheiro, afirma que os conceitos apresentados por Marcos Massad estão corretos, mas faltam gestos, como a implantação efetiva dos corredores exclusivos, já previstos no Plano Diretor de Goiânia. “Corredores
exclusivos são muito diferentes dos corredores preferenciais. Estes, criados nas avenidas T-7 e T-9, dão respostas num momento, mas com o aumento da frota de veículos, a faixa fatalmente será invadida pelos automóveis. É um paliativo apenas. Se o Plano Diretor diz que tem de fazer corredores exclusivos, por que
não fazer logo?”, questiona.
O engenheiro civil e professor universitário Benjamim Jorge Rodrigues dos Santos concorda que a criação dos corredores exclusivos é crucial para resolver os problemas. “Os usuários reclamam da eficácia do serviço, da qualidade. As queixas são sobre ônibus lotados e tempo de espera nos pontos de ônibus”, constata. “Para a qualidade ser alcançada temos de monitorar alguns parâmetros internacionais”, acrescenta.
Entre os parâmetros, o professor cita o tempo de espera nos pontos. “Um padrão aceitável é de 20 minutos”, sugere. Benjamim Jorge cita ainda a questão de lotação dos veículos, tempo de viagem – que deveria ser no máximo 50% superior ao gasto pelo automóvel –, idade da frota – máximo de cinco anos de uso – e a integração física e tarifária. “Além disso, a fiscalização e a aplicação de sanções deveriam ser feitas por um organismo isento, como a AGR, e não por um conselho composto por representantes das próprias concessionárias,
como está no edital da concorrência do transporte”.
Antenor Pinheiro entende que a solução para o transporte coletivo passa necessariamente pela desprivatização da gerência do sistema, um assunto que ninguém abordou na entrevista com Marcos Massad. “Neste momento isso é mais importante do que a infraestrutura”, afirma. Para o presidente do Cetran, em Goiânia o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo (Setransp) ainda é a gerência, uma competência que deveria ser do poder público. “Há um conflito de interesses. A iniciativa privada trabalha com o lucro e o gestor público com
o interesse da sociedade”, cita.
O presidente do Cetran lembra que é preciso criar condições que o ônibus ande mais rápido. “O ideal é que os ônibus andem de 21 a 25 quilômetros por hora, mas em Goiânia eles estão fazendo 7 quilômetros por hora porque disputam espaço com carros”.
O Polular – Face a Face //