Por um melhor pacto social no trânsito.


A cada dia percebe-se a necessidade de um melhor pacto social para a resolução dos graves problemas de trânsito que sofremos. Sabendo que a educação é o principal elemento de transformação social, com resultados comprovados mundo afora, é mais do que urgente que a sociedade se organize e cobre com mais vigor de seus governantes políticas de longo prazo na área. O pacto social só se faz legítimo quando o cidadão participa do processo político como um todo, cobrando seus representantes e debatendo questões abrangentes ao todo, não só o que lhe agrada e beneficia. Também quando respeita as leis, não apenas algumas que lhe interessam. Por isso, a necessidade de uma mudança de mentalidade.
Quando se diz educação, inclui-se, evidentemente, educação no trânsito, principalmente como parte da grade escolar, já no ensino fundamental, abordando, no mínimo, noções básicas do tema, como já prevê artigo 76 do Código de Trânsito Brasileiro, que diz: “A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação”.
Indivíduos mais bem formados traduzem-se em cidadãos que cumprem com zelo as regras de viver e se locomover em nossas estradas e centros urbanos. Crianças bem informadas se transformam em jovens responsáveis e, por fim, em adultos conscientes de seu papel quando pisam fora de casa. O respeito pela vida alheia nasce da consciência do valor da vida e de quão frágil ela é frente às barbaridades que a vida moderna nos impõe. A formação de um novo pacto social no trânsito passa pelo âmbito público, mas, essencialmente, pela sua manutenção no círculo privado, em nossas casas e famílias, nossos pais e filhos.
Uma direção responsável depende dessas ações exclusivas do poder público. Condições de dirigibilidade, combate à impunidade, segurança e boas estradas são pontos primordiais desta mudança que se faz necessária. De que adianta motoristas preparados, se as condições das vias são precárias ou se o ato de dirigir é secundário quando ele está ao volante? Grandes anúncios nas ruas tirando o foco com muitas informações desnecessárias, congestionamentos ou acidentes nas pistas contrárias atraindo a atenção dos condutores são desafios que temos que enfrentar no cotidiano.
Medidas mundo afora mostram que as soluções podem ser simples. Um exemplo: a maioria dos países europeus utiliza árvores no canteiro central das vias duplicadas para evitar que os motoristas se distraiam com o fluxo no sentido contrário ou com algum acidente do outro lado. Outra solução é proibir de vez anúncios muito chamativos em vias de alta velocidade, onde apenas um deslize é fatal, evitando assim que o condutor se concentre em interpretar uma propaganda qualquer. Para quem depende das estradas para trabalhar, por que não construir áreas de acostamento onde o motorista possa descansar um pouco antes de seguir sua jornada de forma mais segura?
O que se vê em nossas estradas e cidades está longe do ideal. Em 2009, foram aproximadamente 37 mil mortes, sem contar os danos humanos graves de natureza permanente, com outros milhares deixados em cadeiras de rodas e famílias afundadas na dor da perda. Números assim fazem do trânsito brasileiro mais violento do que qualquer conflito armado no mundo. Com mais de dez anos de existência, nosso Código de Trânsito precisa passar por uma reformulação para atender às novas demandas e aperfeiçoar outras. É preciso punir mais duramente os infratores graves, colocar em prática um sistema eficaz de fiscalização para evitar que bandidos disfarçados de condutores continuem nas ruas, prontos para uma melancólica guerra sobre quatro rodas, botando em risco famílias e trabalhadores.
Dessa forma, o processo de transformação do trânsito passa por medidas emergenciais e outras de caráter a longo prazo. O foco na educação e prevenção é capaz de ajudar na frente. A rigidez das leis e punições ajudam agora! Leis já existem, fazê-las práticas e respeitadas é o grande desafio do Brasil de hoje, em que falta vontade política e sobram governantes populistas, que jogam para a plateia em vez de propor ações sérias e comprometidas com o bem-estar.

Diário da Manhã – Jair Cunha //

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