Percepções sobre o potencial da regeneração natural para restaurar ecossistemas abertos do Cerrado

Por Bethina Stein

Nos últimos anos, a restauração de ecossistemas savânicos e campestres tem sido um dos assuntos mais relevantes na ecologia. Uma das técnicas mais utilizadas para restauração do Cerrado é regeneração passiva, em que se espera que as espécies nativas voltem ao sistema ou cheguem às áreas degradadas sem nenhum tipo de intervenção. Para as espécies lenhosas, essa técnica tem sido eficaz, mas não sabemos se o mesmo ocorre para as espécies dominantes em campos e savanas do Cerrado: as gramíneas e ervas nativas. Nesse estudo, nos perguntamos: Será que a regeneração passiva depende do
quanto a área já foi degradada? Quais são as formas de ocupação e desenvolvimento das espécies em áreas conservadas e degradadas?

Para investigar essas questões causamos uma perturbação em um campo Cerrado conservado e em uma pastagem degradada dominada por espécies invasoras, removendo as plantas, solos e raízes e após um ano e meio retornamos às parcelas para monitorar quais espécies haviam colonizado e se a forma de ocupação e desenvolvimento foi através da germinação de sementes ou rebrota das estruturas subterrâneas. O que descobrimos?

Campo degradado dominado por espécies invasoras: as espécies invasoras dominaram as clareiras, principalmente pela germinação de sementes. Poucas foram as espécies nativas que conseguiram colonizar essas áreas, apesar da remoção das espécies invasoras e da curta distância da área degradada do campo conservado.

Campo conservado: as clareiras foram colonizadas e dominadas pelas espécies nativas típicas, que ocuparam as clareiras, principalmente, pela rebrota das estruturas subterrâneas e pela propagação de estolões, que são ramos das gramíneas que crescem e se espalham pela superfície do solo, formando raízes e indivíduos independentes da planta-mãe.

Na prática, o que isso significa? O Cerrado tem potencial de regenerar passivamente, mas isso depende do nível de degradação da área em questão, ou seja, se o banco de estruturas subterrâneas foi ou não removido do solo pelas atividades agropecuárias. A principal forma de crescimento das espécies nativas, incluindo espécies de subarbustos, ervas e gramíneas, é a rebrota de estruturas que ficam armazenadas abaixo do solo. Sem a presença dessas estruturas que possibilitam o estabelecimento das espécies desejáveis, a restauração dos ecossistemas abertos do Cerrado requer técnicas ativas, ou seja, que intervenções sejam realizadas para promover o estabelecimento das espécies.


Acesse o artigo na íntegra em: https://doi.org/10.1111/aec.70113

Esse texto foi originalmente publicado no “Boletim Interativo Plantamos!”, de edição nº 18, feito pela Associação Cerrado de Pé. Para conhecer mais sobre a associação, clique aqui!

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