O que esperar de campos restaurados? Indicadores e valores de referência para campos do Cerrado
Por Bruna Helena Campos
Ecossistemas abertos estão desaparecendo em escala global. No Brasil, os campos presentes no Cerrado têm sido convertidos para agricultura, pastagens, além de serem invadidos por espécies não-nativas. Nesse sentido, a restauração ecológica é o caminho para tentar recuperar um ecossistema previamente degradado e trazer de volta suas funções, como o estoque de carbono, a manutenção de lençóis freáticos e aquíferos, e o abrigo para animais selvagens. Apesar de já sabermos que restaurar um sistema é necessário e importante, não possuíamos indicadores ou valores de referência que auxiliassem na avaliação do sucesso de projetos que visam recuperar estes ecossistemas. E por que essas ferramentas são importantes? Ao estabelecermos indicadores a partir de um ecossistema de referência é possível definir um modelo a ser seguido, além de saber, por meio dele, como está o processo de recuperação e o quão longe estamos de um ecossistema íntegro.
Agora, para os campos do Cerrado, temos um conjunto de indicadores e valores que podem ser utilizados como meta a ser atingida na restauração de campos degradados. Dentre os principais, podemos destacar que um campo restaurado precisa ter em torno de 20% de solo exposto e 80% coberto por vegetação nativa, podendo ser capins, ervas, arbustos e subarbustos, capazes de rebrotar caso o campo pegue fogo. A cobertura de árvores não deve ultrapassar 20% e o número de espécies encontradas em 1m² deve ser entre 9 a 22 espécies. O que ainda é difícil dizer são quais espécies devem compor esses ecossistemas, uma vez que são muito diversos. A maioria das espécies tem distribuição restrita, sendo impossível fornecer uma lista fixa de espécies a serem plantadas. É importante dizer que, apesar de termos os indicadores e valores a serem utilizados como modelo, alguns deles ainda são quase inatingíveis ou não são bons indicadores. O número de espécies por m² é uma meta importante, mas os números de um campo íntegro são tão elevados que é quase impossível chegar a esses valores no estágio atual de restauração dos campos do cerrado! Já a biomassa (peso de plantas acima do solo) pode ser facilmente atingida, mas não é um bom indicador no caso de ecossistemas que pegam fogo. Pois ter pouca biomassa não significa que o ambiente não foi restaurado, visto que ele pode estar apenas se recuperando da queimada.
Sabendo das possibilidades, limitações e dificuldades que ainda temos de enfrentar na restauração de campos e savanas, é ainda mais importante que se tenha consciência de que a restauração não é a solução para tudo. A conservação dos campos que ainda existem e estão íntegros, continua sendo a principal atitude que podemos ter com estes ecossistemas únicos em biodiversidade e que trazem tantos benefícios à humanidade.
Acesse o artigo na íntegra em: https://doi.org/10.1111/rec.70010
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